É impossível se posicionar contra esta operação ou condenar a atuação de elementos que dela participam, como os oriundos do MP, da PF e o juiz Moro, sem ser muito canastrão, como no caso de corruptos com “rabo preso”, militantes-mercenários do PT ou Reinaldo Azevedo. Porém, há um problema real no protagonismo judicial de toda esta transformação de enorme alcance na sociedade brasileira, que se trata das possibilidades de compreensão que o país alcança diante das circunstâncias e contexto dos crimes investigados. Ou seja, cumprindo sua função específica, a Lava-Jato é um dos grandes acontecimentos que tivemos em nossa história recente, até mesmo no sentido da promessa de se tornar um divisor de águas. Porém, na medida em que se torna um símbolo para o qual converge a esperança popular e é apropriada pela retórica das mais diversas perspectivas políticas, costuma resultar em muita confusão e erros, mesmo quando motivada por boa e legítima intenção.

Como os mais atentos já puderam notar, o grande crime da quadrilha era o maquiavélico projeto para se eternizar no poder, e o preço que o país está pagando mostra que apostaram alto neste esforço de subversão do estado democrático de direito. A corrupção era mero instrumento para tal operação ambiciosa. Mas esta era a parte criminosa, no sentido mais comum, de um método abrangente que envolvia igualmente uma série incalculável de medidas operadas dentro da perfeita legalidade. Dito de forma mais clara, ainda que inexata, a “estratégia gramsciana” que norteia em linhas gerais a conduta do PT, não está prevista e tipificada no Código Penal.

Por isso, grande parcela do povo brasileiro ainda confunde este caso com a corrupção convencional, tradicional, apenas “mais do mesmo”, o “de sempre”, sem entender que não é que outros partidos não fossem corruptos antes disso, ou não travassem relação promíscua com o empresariado, é que nenhum deles tinha um projeto revolucionário (mais exatamente: ditatorial-totalitário) como finalidade no qual a corrupção era apenas o meio para chegar lá.

A narrativa dos advogados de corruptos, como é flagrante, insiste em que apenas seguiram operando esquemas de corrupção herdados desde a chegada de Cabral no Brasil, sendo o único responsável pelos atos criminosos ao longo dos governos Lula e Dilma, o modelo de presidencialismo de coalizão com o desafio de formar maioria no legislativo. Certamente, um regime de partido único seria bem-vindo por eles para resolver o suposto problema.

Mas não se deve alimentar ilusão a respeito: se a Lava-Jato colocar todos os corruptos do PT na cadeia, como se espera que faça, e esvaziar o legislativo condenando referências dos demais partidos, (quem sabe derrubando o executivo junto?), tais fatos não são suficientes para refutar a ideia propagada como mantra pelo país afora de que este foi apenas mais um caso de corrupção na política. A única característica excepcional do episódio estaria em ter sido tratado com seriedade e punido, o que soa até como se os companheiros do Zé Dirceu tivessem um tremendo azar, “coitados”. E mesmo os volumes surreais de grana movimentada nos últimos anos apenas caracterizam seus operadores como bandidos mais profissionais, vorazes e espertos que os habituais em nossa pseudo-República. Por isso, cabe à Sociedade Civil em geral, não à Justiça, zelar pela verdade completa de todos estes fatos e divulgá-la, assim como decidir pelos rumos da política que melhor proveito retenham desta extraordinária operação.

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