Já se tornou lugar-comum o uso de termos vagos como “hegemonia marxista”, “de esquerda” ou do Partido dos Trabalhadores, expressões que podem ser tomadas como simples sinônimos no contexto brasileiro. Mas muito difícil é avaliar o seu grau de realização, para além da opinião dos próprios marxistas ou de seus adversários. Seria a eleição de Lula em 2002 e os mandatos do PT que se seguiram, uma evidência da hegemonia conquistada? Além desta, a inegável colonização marxista da educação, do jornalismo, do sindicalismo, etc, confirmaria a configuração político-cultural hegemônica? A tese parece inabalável até que se apresentem alguns elementos problemáticos em todo este processo, sobretudo o resistente conservadorismo do senso comum cujo status majoritário não foi sequer ameaçado ao longo de tantos anos de intensa exploração marxista dos meios para formar a opinião pública brasileira.

Apoiado em tradicional personalismo da cultura política brasileira, sem qualquer compromisso com critérios ideológicos, Lula realmente alcançou, por muito tempo, popularidade maior que a de qualquer outro no cenário recente. Mas a imagem de Lula possui duas faces: a do “operário no poder”, para os marxistas, e a do nordestino pobre que “subiu na vida”, atraindo classes mais baixas que se identificam com ele através de pressupostos conservadores. Já o PT como movimento político carrega marca ideológica muito estrita, explicitamente definida como socialismo, sem disfarçar que sua inspiração é o marxismo.

Contando com grande parte dos jornalistas nos grandes meios de comunicação, a militância do partido divulga sua mensagem para toda a população. Ainda que sejam exibidas muitas notícias que prejudicam a imagem do PT, tantas vezes distorcidas e amenizadas com eufemismos ou desvios do ponto fundamental, o controle do teor ideológico na abordagem de fatos e opiniões é caricato. O que se convencionou denominar “politicamente correto” é o imperativo categórico exercido na auto-censura de todo discurso público. Além do jornalismo, artistas e intelectuais públicos (oficiais e onipresentes) também se alinham ao mesmo padrão “ético” com seu jargão típico.

Em escolas e universidades, professores de Humanas parecem formar 100% de adeptos do marxismo ou de alguma de suas inúmeras sub-vertentes e versões. Tudo gira em torno da lógica da luta de classes, embora o arquetípico par “burguesia-proletariado” raramente seja o caso. O trabalhador perdeu prestígio como símbolo revolucionário para muitos ideólogos, suspeito (e condenado) por suas tendências conservadoras. Multiplicaram-se as possíveis identidades, tanto para representar os militantes (oprimidos) como seus inimigos (opressores).

Deve-se reconhecer a genialidade de descrita estratégia, mas é também indiscutível que seu êxito efetivo é muito limitado. A “ocupação de espaços” é um momento da ação revolucionária, sem dúvida, o que se esquece é que a Hegemonia só se realiza com a conquista do “senso comum modificado”, de acordo com os valores e princípios da doutrina marxista. No Brasil, ao contrário, com exceção de alguns grupos minoritários fabricados pelo proselitismo nas universidades, o conservadorismo é a ideologia hegemônica do senso comum, ainda que banida do “mainstream cultural”.

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