No ginásio do Colégio Pedro II (RJ), havia aulas de “Educação para a cidadania” que, apesar de entediantes, enfatizavam lugares-comuns inquestionavelmente vinculados aos princípios e valores de uma democracia. Não havia ambiguidades na retórica que se apresenta como democrática, mas coerência com os direitos e deveres que se ensinava, sem insinuar ou alegar abertamente que se deve suspeitar da legitimidade dessas noções.
As diretrizes da educação brasileira se modificaram tanto desde então que já nem é possível comparar o cenário atual com o do relato. A educação em valores morais e éticos deixou de ser função de uma disciplina entre muitas voltadas para o ensino do conhecimento. Agora, a “catequese” é onipresente dos primeiros anos escolares até o topo da formação universitária. No entanto, tamanho esforço é dedicado a tornar os estudantes céticos e cínicos diante do ideal democrático. A afirmação parece absurda caso se desconheça teses já clássicas do marxismo, além da informação de que tal doutrina orienta a formação de professores e, na prática, impera absoluta em cursos de humanas.
Não importa que professores e autores aleguem defender a democracia como modelo de regime, quando há doutrinação marxista, o aluno que adere se compromete com uma lógica que o conduz a valorar negativamente tudo aquilo que nossa tradição cultural exaltou e defendeu, inclusive os fundamentos filosóficos que dão sentido ao estado de direito. Segundo o próprio Karl Marx, as leis de uma sociedade capitalista e seu regime político, apenas servem para garantir jurídica e militarmente a dominação de burgueses sobre proletários. Portanto, tudo não passa de formalidade, sendo dever revolucionário transgredi-la. Violar as regras do jogo que é determinado pelo inimigo na “luta de classes” não é prática que dependa de um comando explícito e específico de um líder da militância. Trata-se de automática inferência a típica glamourização da ilegalidade e criminalidade quando se raciocina no interior de parâmetros de uma teoria que só se realiza plenamente ao resultar na ação subversiva e violenta.
Do mesmo modo que se faz com o Direito (burguês) e a Democracia (burguesa), o tom moralizante é adotado diante de qualquer traço sócio-cultural que o marxista pressupõe estar vinculado essencialmente ao capitalismo. Pelo pecado original de participar da “superestrutura” no contexto da civilização onde tal sistema econômico surgiu, todos são culpados por cumplicidade com a exploração do proletariado: a religião, a moral, a ética, a política, a filosofia, a arte, epifenômenos e aparência de uma só “essência burguesa” que se conhece em sua máxima abrangência como Ocidente. Não importa se a revolução é imaginada como processo pacífico e democrático pelos professores, embora convivam com colegas entusiastas declarados da violência. A missão dos militantes inspirados em Paulo Freire, ou outro ideólogo da educação, é definida como destruição de toda a base espiritual que formou a cultura e a ordem social vigentes, ainda que em crise e já evidente decadência a esta altura.
Se ao nível individual, o impulso subversivo pode resultar nas mais diversas possibilidades, quando os estudantes são reunidos sob o comando de líderes, o efeito é bem determinado para que colabore com a meta do movimento, que é o apoio em massa ao autoritarismo e à violência, desde que rotulados como atos revolucionários. Não é difícil conquistar adesão para perseguir grupos da sociedade que os estudantes sempre foram estimulados por aqueles professores doutrinadores a odiar. Tudo é uma questão de adjetivar o alvo como “extrema-direita”, “fascista”, “machista”, “racista”, “as elites”, “elite branca”, ou simplesmente a síntese disso tudo no vocabulário brasileiro contemporâneo: “coxinha”.