Caso famoso e recente de típica teoria da conspiração que se popularizou é o documentário de Michael Moore sobre “11 de Setembro”, mas não é a nada de espalhafatoso e sensacionalista que o título do texto se refere, ao contrário do exemplo mencionado. A padronização da pauta nos grandes meios de comunicação, assim como a superficialidade e mesmo manipulação descarada das notícias em todas as fontes “mainstream” de informação, produziu um cenário em que qualquer aprofundamento em algum tema e acréscimo de informações que não circulam no Jornal Nacional, traz ao sujeito que busca ir além do mais bruto senso comum, o rótulo de “teórico da conspiração”. E isto se aplica aos casos de pesquisa mais metódica, rigorosa e honesta, com vasta documentação, etc, que ao reduzir-se a “uma teoria da conspiração entre outras”, se nivela à imaginação fantástica infanto-juvenil ou ao delírio. Curiosamente, grande parte dos que rotulam como paranoicos pontos de vista que pareçam exóticos no contexto do jornalismo padrão Globo, é composta pelos mesmos militantes que vivem atacando a “família Marinho” e subestima como “manipulados pela Veja” os que se expressam contra a ideologia a que se alinham os partidos de esquerda.
A padronização e regularidade com que os mesmos pressupostos orientam as notícias e discussões, produzem um cenário em que determinada narrativa é tornada oficial, em torno da qual se apresentam os personagens públicos com suas teses. Assim, o Brasil é composto de “amigos dos pobres” e seus malvados inimigos, bastando a mera alusão a esta (imaginada) “luta de classes” para que um oportunista qualquer seja elevado ao status de destemido combatente “pelo povo”, a denunciar assim as mais profundas injustiças em nossa sociedade. Desde esta perspectiva, o jornalismo representa a resignação cínica e as universidades representam a inconformidade, embora orientada pelas mesmas crenças que guiam os mais rasteiros jornalistas. Esta estúpida polarização imaginária se expressa de muitas maneiras, como “capitalismo x socialismo”, “direita x esquerda”, “conservadores x progressistas”, “liberais x assistencialistas”, etc. A vigência de uma tal narrativa depende da manutenção de absoluta ignorância acerca do que tratam os debates políticos e da realidade a que se referem.
Curiosamente, sempre há quem “fale em nome dos mais pobres” mas jamais temos a oportunidade de ouvir o pobre mesmo, para que nos informe suas dificuldades e reivindicações. Há uma fé inabalável em que a população universitária, de onde saem jornalistas, intelectuais públicos, professores em geral, tem o monopólio do conhecimento dos problemas dos pobres, cuja opinião própria sobre o tema não tem qualquer relevância: a verdade do pobre, ou da pobreza, pertence ao acadêmico, que a conhece via livros bastante caros e uma vida à margem do mercado de trabalho, que desconhece como assalariado, menos ainda como desempregado.
O resultado desta esquizofrenia cultural consiste em estranho paradoxo. Por um lado, o ceticismo da população diante de jornalistas, intelectuais e políticos, é cada vez maior e tende à completa indiferença por seus discursos. Obviamente, um autêntico trabalhador não é seduzido ou se deixa persuadir por ideologias elitistas, forjadas nesses universos paralelos que são os cursos de humanas e formação de professores. Resta ao mito oficialista apenas aqueles adeptos recrutados no quartel general que são as salas de aula, já ocupadas e devidamente colonizadas ideologicamente. Por outro lado, o acesso à informação verdadeira é complexo e desafiador, quando não impossível em muitos casos.
Isso quer dizer que divulgadores de propaganda e utopias para iludir bobos, já não convencem quase ninguém a comprar suas opiniões positivamente promovidas, mas negativamente parecem possuir a grande utilidade de confundir e desviar o foco da opinião pública. Todo tipo de problema fundamental, informação decisiva e proposta séria, restringe-se hoje a assuntos de “teóricos da conspiração”.