Aparentemente, há muitas diferenças entre os estereótipos sociais de intelectual acadêmico, jornalista, sacerdote, músico, cineasta, ator de novelas, professor, estudante, líder sindical, mas um único partido associado a determinado discurso ideológico pode ter em todos eles simultaneamente colaboradores envolvidos, na prática, com o mesmo proselitismo. A raiz do fenômeno é uma lógica tornada célebre na fórmula de Gramsci: “tudo é política”. Mas na divisão cultural do trabalho da militância, uns são mais intelectuais que outros, ou mais precisamente, o “intelectual coletivo” consiste em sólida estrutura hierárquica que articula várias funções. Entender a especificidade de cada posição neste enorme organismo político, assim como a base geral que as unifica como partes interdependentes, é a condição para visualizar como se apresenta empiricamente uma hegemonia político-cultural.
A “eminência parda” nisso tudo é sempre certa intelectualidade acadêmica, a qual normalmente também tem status de elite em estruturas partidárias nacionais e organizações internacionais. Neste âmbito, se elabora a estratégia geral, se estabelecem agendas, se formulam os termos dos debates públicos, se elegem as “palavras de ordem” e se define como cada setor da sociedade deve colaborar para o avanço do movimento. É comum que tal equipe de ideólogos e estrategistas nem sequer sejam expostos como célebres intelectuais públicos, sendo mais reconhecidos e influentes para os líderes políticos e demais professores universitários, ignorados pela “opinião pública” e as massas. De qualquer maneira, também é relevante a tarefa do acadêmico engajado em sua performance no espetáculo midiático. Legitimar o mais medíocre padrão do “politicamente correto” como se representasse virtude moral e superioridade cultural, além de hostilizar ideias e pessoas condenadas como seus inimigos, são as atividades da rotina.
No ambiente universitário se forma também uma espécie de sub-intelectual, cujo conhecimento só parece superior para crianças e adolescentes, que ainda pouco ou nada aprenderam em sala de aula. Os cursos de Pedagogia e Licenciatura produzem doutrinadores em série, impondo-lhes a missão de dar homogeneidade ideológica à multidão de cada nova geração, não importa que o desastre do analfabetismo venha como “efeito colateral”.
Do mesmo terreno cultivado pelo marxismo vulgar, brota outra importante espécie de sub-intelectual chamado jornalista. Neste caso, ainda que seja muito ignorante e estúpido, qualquer “formador de opinião” que ocupa espaço nos grandes meios de comunicação tem um alcance muito maior do que os professores podem ambicionar. Substituir a realidade que à maioria é evidente por narrativas que nunca se referem a fatos, mas apenas a valores aceitos e promovidos por seus “companheiros”, é o ofício do jornalista-militante. Menos evidente talvez mas igualmente importante é a participação de músicos, atores de cinema e novela, humoristas, atletas, incapazes de qualquer originalidade e, por isso mesmo, opiniões úteis para corroborar e popularizar a posição oficial gerada pelos que determinam as diretrizes da “luta” em cada contexto político.
Já as autoridades religiosas lhes servem para duas finalidades. Por um lado, há aqueles carismáticos com poder de transformarem seu rebanho em eleitores de seus candidatos. No entanto, existe uma função laica da religião, com o poder de vender o sentido sagrado de sua tradição para grupos e ideias que a combatem declaradamente, embora a instrumentalizem, para melhorar a imagem diante de uma população majoritariamente conservadora.