O protagonismo da internet ao longo dos últimos anos foi determinante para a configuração que possuem as discussões públicas no Brasil. A complexidade do cenário é tamanha que, exceto os mais evidentes militantes do PT, os jornalistas do mainstream são em sua maioria ambíguos e incoerentes. A independência e a seriedade parecem ter sido condenadas à extinção nos grandes meios de comunicação. Desde a circulação de notícias até as análises políticas e debates mais impactantes para a sociedade, a padronização de falácias e falsificações grosseiras, além da seleção de possibilidades de posicionamento reduzidas à mais rígida polarização, sempre deixam claro para a população comum a intenção de manipulá-la. Jornais, revistas, coberturas e matérias apresentadas na TV, são em sua maior parte motivo de piadas, além de muita indignação, para o público que consulta tais fontes.
Nesta situação, grupos e personagens individuais que se destacam na internet, adquiriram relevância fundamental. No nível mais básico da informação, a ênfase e o estilo de abordagem sobre determinada pauta, podem ser considerados a diferença desta vertente de opositores. Muitas vezes, não é necessário sequer buscar fatos totalmente ausentes do noticiário “oficialista”, mas apenas insistir em assuntos que, além de maquiados, desaparecem das manchetes com enorme velocidade. É verdade que há recurso a fontes de informação privilegiadas em casos como os da jornalista Joice Hasselmann e da equipe do site O Antagonista, ambos com extensa carreira anterior em grandes meios, mas obrigados a aderir ao ambiente alternativo para se preservarem livres do corporativismo homogeneizador da classe jornalística. Mas como foi dito, além do importante componente investigativo no trabalho dos profissionais mencionados, a maior ousadia está em não permitir o esquecimento sobre os fatos mais graves que em algum momento, até o Jornal Nacional noticiou.
Curiosamente, aquela falta de credibilidade conquistada pelo jornalismo convencional, se aplicou de maneira conveniente para promover o ceticismo diante das fontes da internet. A lógica é que os grupos da grande mídia perderam a confiança da população mas continuam sendo as “marcas” mais famosas e tradicionais neste mercado, ao contrário da produção recém-surgida com o aumento do acesso e do uso de blogs e redes sociais. Ou seja, quando a notícia é inconveniente para o gosto partidário de um militante, ele tem a escolha de negar o fato informado, seja por ter sido noticiado por um grande jornal ou revista, ou por gravações amadoras espalhadas em canais quase desconhecidos do youtube. A grande circulação e a baixa audiência podem igualmente ser invocadas como pretexto para anular a validade de fontes de conteúdo prejudicial ao partido ou governante que se apoia.
Mas a disputa em torno da pauta do noticiário, cujo controle deixou de ser monopólio de empresas domesticadas por verba estatal, não é a única e talvez nem mesmo a principal. Muito mais ameaçador à estabilidade do ambiente controlado da “opinião pública”, é o combate mais amplo contra a narrativa ideológica vigente, da qual todo o jornalismo mainstream depende, e mesmo muito conteúdo circulante na internet reverbera seus pressupostos. Tal corrente de oposição, não só contra o PT mas contra o corporativismo dos formadores de opinião “oficiais”, utiliza um método que se ajusta à estratégia do movimento marxista. A técnica de operar uma bifurcação do discurso, com um destinado à população em geral no qual oculta sua real intenção, outro para “consumo interno”, seja para os líderes ou para a militância, é o “truque” a ser desmascarado.
Assim, muito mais fundamental do que contra-argumentar as formulações propagadas pelo governo e disseminada por ideólogos e militantes pelo país afora, tratava-se antes de traduzir aquele código político, cuja natureza de propaganda e desinformação se explicita pela exposição do que os mesmos grupos marxistas comunicavam longe do foco dos debates públicos. Talvez não fique clara a finalidade exata das ações do PT, para além do poder. Mas que o Partido sempre mente, e que conta com tropas de formadores de opinião de todos os níveis para isso, grande parte dos brasileiros demonstra ter entendido.