Neste processo de conquista e perda de hegemonia pelo PT, ganha relevo a influência de uma figura em particular: Olavo de Carvalho, veterano do jornalismo brasileiro, mas não a isso se atribui a popularidade adquirida. Quanto à avaliação feita, não há controvérsia nem pesa qualquer juízo pessoal, já que até aqueles que abominam o jornalista citado, o fazem devido à sua enorme e insuportável reverberação difusa por várias fontes, sobretudo na internet mas também no próprio discurso e atuações de políticos simpáticos a seu trabalho, tanto de analista político como de professor de filosofia e ciência política.

Os fatos recentes a seu respeito são bastante conhecidos. Já nos anos 90, tornou-se maldito para toda a casta sacerdotal das universidades, principalmente para aquelas seitas nativas dos cursos de humanas, ao publicar “O imbecil coletivo”. Trata-se de longa série de breves registros da cultura acadêmica no Brasil das últimas décadas, com descrição e análise de episódios e tópicos específicos, reunidos todos sob o unitário caráter de sátira do conceito gramsciano de “intelectual coletivo”. A peculiaridade aí está no partido concebido como atividade comunicativa de difusão de uma só ideologia desde múltiplas fontes, não só aquelas tradicionais como militância partidária identificável e sindicalistas, mas a ênfase é colocada na atuação de jornalistas, professores, padres, artistas e produtores da cultura de massa.

Como se não bastasse tal “sacrilégio”, Olavo também ousou denunciar uma organização de dimensão continental, o (agora) famoso Foro de SP, ainda nos primeiros anos de sua atuação, época em que o fazia por publicações em grandes jornais e revistas. Como ninguém quisesse tratar do assunto, por ignorância, leviandade ou interesse, havendo insistência do colega inconveniente, o jornalismo brasileiro decidiu “antecipar sua aposentadoria” fechando-lhe as portas de todos os grandes meios de comunicação. Mas para frustrar tais planos corporativos surge a internet, capaz de furar o bloqueio que condena ao silêncio qualquer marginal à hegemonia vigente. Instaura-se a partir de então o estado de incomunicabilidade absoluta. Para o universitário em geral passou a ser regra de etiqueta odiar Olavo de Carvalho. Como diante de um tribunal de sua categoria, a superioridade intelectual do acadêmico só se prova definitivamente através do desprezo público ao “maldito”, e de fato inconveniente, jornalista. Que a formação deste não seja devedora da instituição universitária serve como prova inquestionável de que se trata de charlatão invejoso atacando uma elite comprovadamente sábia e de cultura enciclopédica. Obviamente, dado tão sólido consenso, torna-se dispensável referir-se criticamente ao conteúdo próprio de seu discurso e publicações, já que a priori desprovido de valor.

A mesma estrutura (bizarra) se apresenta no tópico Foro de SP. Examinar o conteúdo de teses e argumentos pode parecer tarefa demasiado abstrata para nossos professores e estudantes, mas verificar documentos e relatos sobre metas explicitamente traçadas em reuniões, as quais são rigorosamente obedecidas pelos membros da organização, não chega a ser maior desafio para a cognição de um primata. Apesar disso, ninguém parecia considerar o recurso da consulta às fontes, fixados superficialmente na pessoa que apenas “passava adiante” um arsenal de informações sobre o qual não detinha o monopólio, nem o mérito da obtenção via informantes privilegiados já que tudo era plenamente acessível para o público.

E foi assim que um tópico sério virou tabu. Só se supunha concebível tocar no assunto caso se tratasse de algum “olavete” tarado. A política externa brasileira desapareceu à força dos debates, nada de falar em “pátria grande”, “socialismo del siglo XXI”, “revolución bolivariana” ou “castro-chavismo”, sob pena de perder o direito ao debate e merecer “bullying” em ambiente universitário, dada a sua evidente boçalidade. Não importava que circulassem manifestações do PT e demais aliados do continente que confirmavam, item por item, a versão “absurda” e “paranoica” do Olavo, era sempre pura invenção dele, como “todos sabem”. Que a mensagem do Foro fosse recuperar na América Latina o território perdido no leste europeu não deveria preocupar a ninguém sensato e minimamente culto, só mesmo a esses estúpidos “olavetes”.

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